fugaz

Não precisamos de planear o futuro ao milímetro,

não precisamos de fazer promessas que não podemos cumprir.

Podemos interpretar as pessoas como figurantes que passam

na nossa vida, dão-lhes um certo sentido num certo momento

e depois seguem caminho noutra direção para cumprirem o mesmo papel

numa vida diferente.

Mas hoje, com as opções que nos disponibilizam, voláteis e fugazes,

descartamos relações, não valorizamos,

não procuramos entender o outro e observar para além

do que um estranho vê quando passa ao seu lado na rua.

Procuramos mais e melhor na esperança de encontrarmos

o diamante que nem lapidado precisa de ser

e nunca estamos satisfeitos, porque a ilusão é apenas isso.

Não precisamos de ter todas as certezas do mundo,

mas será que uma vida de encontros e desencontros

porque não conseguimos ser seguros de nós próprios para tomar decisões

é a melhor opção?

Vivemos sobre um catálogo vivo, olhamos para as pessoas

como personagens do sims, sem responsabilidade afetiva

e como algo passageiro à partida,

por isso para quê darmo-nos ao trabalho de aprofundar?

Para quê investir em alguém que vai deixar de estar,

não daqui por muito tempo?

Pensamos apenas qual a resposta à próxima pergunta,

sem pensar nas consequências.

O que nos dá mais jeito ou mais prazer naquele instante.

Hoje queremos a todo o custo ser a nossa melhor versão,

independente, empoderada, livre leve e solta.

Somos cada vez mais egoístas e solitários,

por muitos recursos que tenhamos à mão

e por muito que queiramos convencer-nos e mostrar o contrário.

Hoje, estarmos ligados a alguém é contradizer tudo isso,

virou fraqueza.

Mas virou fraqueza porque não sabemos o que queremos,

ou porque não sabemos o que somos

e não nos dá jeito sermos confrontados com isso?

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