voz
Tenho sempre uma voz
que não consigo calar.
Um mau estar que me acompanha.
Faz questão de estar,
mesmo quando
não pedi para ficar.
Suplico que saia,
que me deixe sozinha.
Há dias,
em que os pensamentos me corroem.
Fazem-me perder sentidos,
questionar amigos.
Duvidar do que foi dito,
questionar o desdito,
dar o dito por não dito.
Há dias,
em que algo me domina
e me convence que a vida
não passa de uma mentira
na qual somos obrigados a crer,
a querer viver
ou a sobreviver,
por muito que a vontade seja outra.
Pedem-me que não pense tanto,
ou que não seja tanto,
e eu ouço, não sejas louca,
não sejas tonta.
Serei louca por ponderar ser louca?
Estarei sã por aceitar ser outra?
Mais absurdo ainda
é perceber que o mundo gira,
continua a girar.
Nunca para,
nem tem intenção de parar.
Tu destróis-te para acompanhar,
e finges que nada finda.
Sorris e acenas mas dói,
aceitas que é a tua sina.
Passas a viver num enigma,
ignoras mas retrais o estigma.
Sofres mas deixas ir.
Não quero parecer de mentira
Se não consigo ser de verdade
mais do que por um dia.